Nazismo

23-06-2013 10:41

A Morte do Demônio – Heinrich Himmler, o Comandante das SS

Com a invasão dos aliados a Alemanha, Himmler resolveu deixar o norte, onde os aliados sabiam que ele se encontrava. Deu ordens para que os membros de seu séquito — agora, muito reduzido — tratassem de disfarçar-se da melhor maneira possível. A maior parte dos seguidores do Reichs-führer preferira raspar os bigodes, mudar o penteado e usar trajes civis, em lugar de usar as fardas de altos funcionários de uma po­lícia agonizante. A partir daquele momento, Himmler passava a viver na ilegalidade.

Terminava a época em que o Delfim do Führer e sua corte ocupavam mansões e castelos. Esgueiravam-se de uma localidade para outra, deslocando-se individualmente nos quatro automóveis que cons­tituíam os restos do imenso parque de viaturas do Reichsführer. Estavam disfarçados com uniformes de soldados da Wehrmacht ou em trajes civis. Não mais ousavam apresentar-se nos hotéis e pen­sões; dormiam ao relento, muitas vezes misturados à população e às tropas em êxodo. Enquanto alguns mantinham guarda junto aos car­ros, os outros se deitavam nos bancos das estações ferroviárias, a fim de conseguir alguns instantes de repouso.

Himmler continuava a comandar os doze fugitivos que, munidos de documentos falsificados, pretendiam atravessar as linhas inglesas e chegar à Baviera. Atingindo o Elba, abandonaram os automóveis; disfarçados em habitantes da região, preocupados com o avanço dos russos, misturaram-se à massa humana que caminhava penosamente para oeste. No grupo estavam o Professor Gebhardt, Ohlendorf, Rudolf Brandt, secretário de Himmler, os oficiais SS Werner e Grothmann, além de Heinz Macher.

Himmler raspara o bigode e ocultara o olho esquerdo com uma venda de pano preto. Julgara de bom alvitre usar documentos que o identificavam como Heinrich Hitzinger,Feldwebel (cabo) da Geheime Feldpolizei (Polícia Secreta de Campanha). A escolha da identidade fora bastante sutil: caso fosse aprisionado e interrogado a respeito de seu chefe e das atividades que este desenvolvera du­rante a guerra, poderia responder sem despertar maiores suspeitas. Es­quecera-se completamente, porém, de que os Aliados consideravam a Geheime Feldpolizei um órgão extremamente perigoso.

A partir de maio de 1942, a Feldpolizei, que anteriormente de­pendera do Abwehr, passara a desempenhar as funções da Gestapo nas frentes de combate.

A despeito de tudo, “Hitzinger” e seu grupo conseguiram pas­sar pelo primeiro posto de controle estabelecido pelos britânicos. Entretanto, ao chegarem a Meistadt, entre Hamburgo e Bremerhaven, os doze componentes do grupo foram presos e enviados ao campo de Bremenvoerde, de onde foram transferidos para Zeelos e, fi­nalmente, para Westertinke.

A 23 de maio, os prisioneiros chegaram ao Campo de Interro­gatório Britânico nº 031, nas proximidades de Luneburgo. Passaram-se algumas horas. Três dentre eles, interrogados pelo Capitão Selvester, demonstraram um nervosismo tão evidente que o oficial inglês resolveu apertar o interrogatório e acareá-los entre si. Repentina­mente, um dos três homens arrancou a venda negra que lhe dis­farçava o rosto e declarou em tom bastante tranquilo:

— “Sou o Reichsführer SS Heinrich Himmler. Desejo falar imediatamente com o General Montgomery”.

Selvester não esperava realizar uma captura de tamanha im­portância. Reforçou a guarda dos prisioneiros e solicitou a presen­ça de outro oficial do serviço de informações britânico.

Quando o outro oficial chegou, Selvester solicitou ao homem que dizia ser Himmler que apusesse sua assinatura em um pedaço de papel, a fim de poder compará-la com as existentes nos arquivos do Intelligence Service. Himmler recusou-se. Seguiu-se uma acirrada dis­cussão a respeito da assinatura, que seria a última da vida do Reichsführer.

Conhecedor profundo dos métodos usados pelos serviços de contra-espionagem, Himmler sabia de que modo é possível utilizar uma assinatura falsa e, sobretudo, uma verdadeira. Declarou-se dis­posto a assinar o papel, uma vez que o único objetivo era provar sua verdadeira identidade; todavia, impunha uma condição: os oficiais ingleses deveriam prometer que o papel seria imediatamente destruído, na presença de Himmler.

O Capitão Selvester fez um detalhado exame do conteúdo dos bolsos do prisioneiro. Encontrou uma caixinha, contendo duas mi­núsculas ampolas.

Selvester não hesitou, pois sabia que as ampolas continham ve­neno: o último recurso dos nazistas. Não fazendo qualquer comen­tário e aparentando a mais completa indiferença, perguntou a Himmler para que serviam as ampolas. O Reichsführcr replicou tran­quilamente:

— “Trata-se de um remédio para os espasmos que sofro no estômago”.

Entretanto, Selvester constatara que uma das ampolas estava cheia e a outra, vazia; convenceu-se de que Himmler escondia o veneno em algum outro lugar.

Os ingleses solicitaram ao Reichsführer que se despisse. Todas as peças de roupa foram examinadas. O corpo de Himmler foi mi­nuciosamente revistado. Selvester, contudo, temendo que o Reichs­führer, vendo-se descoberto, mordesse a cápsula de veneno e engo­lisse o conteúdo, absteve-se de examinar a boca do prisioneiro.

O oficial teve uma ideia, no intuito de tranquilizar Himmler: com a maior correção de maneiras, ofereceu chá e sanduíches ao Reichsführer. Caso Himmler aceitasse, seria obrigado a tomar a pre­caução de tirar a cápsula da boca.

Enquanto Selvester observava com a maior atenção, Himmler comeu pacificamente os sanduíches e bebeu o chá. Diante disso, Selvester só tinha uma alternativa: remeter o prisioneiro aos servi­ços competentes do Quartel-General do II Exército Britânico, em Luneburgo. Sugeriu que Himmler vestisse um uniforme inglês. Te­ria duas vantagens: não haveria veneno escondido na farda inglesa e, além disso, os britânicos teriam oportunidade para fazer um exa­me mais detalhado das roupas de Himmler.

Todavia, Himmler protestou:

— “Querem vestir-me com uma farda inglesa para me aba­terem como espião! Pretendo comparecer diante de seus superiores com meu uniforme alemão”.

Himmler julgava seus adversários pelos métodos que ele próprio costumava utilizar. Por outro lado, os britânicos, que desejavam acalmar o prisioneiro nazista, acreditavam que a insistência de Himmler em continuar com o uniforme alemão indicava que o ve­neno estava escondido em algum lugar da farda.

O Reichsführer insistia em protestar:

— “Se fazem tanta questão de que eu vista um uniforme inglês, só pode ser porque desejam desacreditar-me perante os alemães e a opinião pública mundial, fotografando-me e entregando as fotos para publicação na imprensa internacional”.

Afinal, o oficial inglês declarou categoricamente que em hipó­tese alguma Himmler receberia de volta o uniforme, que deveria ser submetido a um rigoroso exame. Ameaçou o chefe nazista de ser transportado nu até o local onde ficaria detido.

Himmler terminou cedendo; aceitou uma camisa, um par de cal­ças e um par de coturnos britânicos. Recebeu um cobertor, enro­lando-se nele.

Selvester afirma que durante a discussão, que durou cerca de oito horas, Himmler comportou-se de modo correto e até mesmo jovial, demonstrando, acima de tudo, evidente preocupação com o destino de seus companheiros. ‘

Às 20 horas, Himmler foi conduzido à presença do Coronel Michael Murphy, chefe doIntelligence Service no Estado-Maior do General Montgomery. Himmler repetiu suas declarações: era o Reichsführer SS Heinrich Himmler e desejava avistar-se com o Ge­neral Montgomery, para o qual já havia preparado uma carta.

O Coronel Murphy embarcou Himmler em uma viatura mi­litar e, juntamente com um de seus oficiais, acompanhou-o até Lu-neburgo, onde o Reichsführer foi levado à prisão de Uelzenerstrasse, ocupada pelo Quartel-General do II Exército Britânico.

O coronel inglês estava convencido de que Himmler conseguira ocultar o veneno na boca, ou nas roupas.

Himmler foi colocado em uma cela, sob a vigilância do Sargento-Mor Edwin Austin, o qual não foi informado por seus superiores a respeito da identidade do prisioneiro. Após a guerra, porém, du­rante uma entrevista concedida à BBC de Londres, Austin afirmou que reconhecera perfeitamente o Reichsführer, apesar do cobertor que dissimulava seus trajes britânicos. Sua maior preocupação era evitar que o prisioneiro conseguisse suicidar-se — como havia feito anteriormente, em sua presença, o General Pruetzmann, um dos acó­litos de Himmler.

Apontando para um catre onde Himmler deveria deitar-se, Aus­tin solicitou ao Reichsführer que se despisse. A ordem foi decor­rente da notícia de que um médico deveria visitar a cela dentro de alguns instantes, a fim de examinar minuciosamente o corpo do pri­sioneiro.

Himmler, dirigindo-se ao intérprete, rosnou:

— “O sargento não sabe a quem está se dirigindo!” Ao que Austin replicou:

— “Já sei, já sei: você é Himmler. Para mim, porém, não faz a mínima diferença. Recebi ordens: dispa-se e deite-se no catre”.

Himmler começou a despir-se no momento em que o Coronel Murphy chegou à cela, acompanhado pelo Capitão Dr. C. J. L. Wells, médico do II Exército Britânico.

O Capitão Wells realizou um segundo exame minucioso em todo o corpo do prisioneiro. Himmler aceitou tudo, sem reclamar. Entre­tanto, quando o médico lhe ordenou que abrisse a boca, Hímmler tirou rapidamente uma cápsula minúscula, que trazia escondida entre a gengiva e a bochecha.

Wells tentou impedir o movimento e enfiou dois dedos na boca do prisioneiro. Himmler jogando a cabeça para trás, mordeu os dedos do médico até os ossos. O Coronel Murphy e o Sargento precipitaram-se sobre o Reichsführer, mas já era tarde demais.

Deitaram Himmler em decúbito ventral, no intuito de evitar que deglutisse o veneno. Tentaram obrigá-lo a vomitar. Fizeram uma la­vagem estomacal. Aplicaram respiração artificial etc. O Reichsführer perdera os sentidos. Nada mais havia a fazer. Doze minutos depois que Heinrich Himmler engoliu o cianureto, o Capitão Dr. Wells não teve outro remédio senão constatar oficialmente a morte do pri­sioneiro!

O cadáver do Reichsführer jazia sobre uma poça de vomito. Seu grandioso Grossraumestava reduzido à ignóbil sujeira em que estava deitado. Um cadáver medíocre, ridiculamente vestido com uma camisa militar britânica, trazendo ainda ao nariz o eterno.pince-nez, atrás de cujas lentes os olhos — que outrora tudo pa­reciam espionar e observar — davam, agora, a impressão de fitar o vácuo; era tudo o que restava do homem que fora o porta-estandarte da ideologia da “raça superior” e construtor do Olimpo Pardo; aRuhmeshalle. Não; as Valquírias não o transportaram para o Walhalla.. .

 

 

Para os soldados ingleses, que significado poderia ter aquela morte? Apenas mais uma, dentre tantas ocasionadas pela guerra. Todos haviam ouvido falar a respeito do grande chefe nazista, de seus crimes hediondos, mas ignoravam o imenso império secreto que ele conseguira erguer, cimentado com incalculável derramamento de sangue.

Austin, fitando o cadáver, murmurou, decepcionado:

— “Então, esse é Himmler. . .”

Jogou o cobertor sobre o corpo inerte do Reichsführer e saiu da cela.

Shakespeare teria exclamado: “Outrora, César fazia tremer o mundo; hoje, ninguém para inclinar-se diante dele!”.

Desolados, os oficiais ingleses compreenderam que sua diploma­cia falhara. Haviam perdido uma bela ocasião para desvendar os segredos da Gestapo. Himmler, como um covarde, só tomara o ve­neno, quando tivera certeza de que o Quartel-General Britânico iria tratá-lo como criminoso de guerra. Preferiu a morte aos castigos que, segundo julgava, lhe seriam impostos. Qualificado pelo mundo inteiro como o mais cruel torturador que já surgiu na História, não podia conceber que os adversários deixassem de aplicar a Lei de Talião. Muitos dos segredos dos doze anos de existência do III Reich foram enterrados para sempre com ele.

No final das contas, o Reichsführer não conseguiu os três me­ses de vantagem que desejava para que os Aliados fossem procura-Io nas montanhas da Baviera e lhe pedissem para salvar o mundo do perigo do bolchevismo. . . Confiara, até a morte, nas previsões de um de seus “videntes”, o qual anunciara que a guerra terminaria na primavera de 1945 e que a Alemanha ,sofreria suas consequências, durante apenas três meses. Segundo declarações feitas por meus ami­gos suecos após a guerra, o referido “vidente” só poderia ser o mas­sagista Kersten.

Se os britânicos não houvessem tratado o ex-Reichsführer como o mais vulgar dos prisioneiros, fazendo-o vestir uma camisa inglesa e transportando-o em um caminhão militar, se o considerassem um personagem histórico, Himmler certamente lhes entregaria os do­cumentos que constituíam seu derradeiro alibi — e que ele soube esconder tão bem que, até hoje, ainda não foram encontrados.

Não há dúvida de que ele tentaria justificar os crimes que co­metera e as provocações que realizara com o auxílio de seu brain trust, mas podemos ter absoluta certeza de que não se suicidaria no momento em que o fez.

Após a capitulação final da Alemanha, um polonês gabou-se de haver reconstituído todo o trajeto da fuga de Himmler, desde sua partida de Hohen-Lüchen, até o local onde foi feito prisioneiro. Se­gundo ele, o Reichsführer trazia consigo uma maleta de documentos, que enterrou antes de tentar atravessar as linhas inglesas.

Dois dias após o suicídio de Himmler, o Sargento Austin recebeu ordens para enterrar o cadáver do ex-Reichsführer. Envolvcu-o em um cobertor, amarrou-o com fios telefónicos e transportou-o para local ignorado. Os documentos e o túmulo do monstro constituem, até hoje, o mais completo mistério.

Um denso mistério também envolve a vida inteira do Reichsfüh­rer e as duas personalidades daquele homem tão singular. Da mesma forma que o Capitão Selvester não conseguiu encontrar no compor­tamento de Himmler qualquer dos elementos característicos de um massacrador de povos, os biógrafos do Reichsführer, baseando-se nas declarações dos fiéis seguidores de Himmler nos depoimentos das mulheres que compartilharam de sua existência, dificilmente poderiam conceber que um homem capaz de demonstrar tantas qualidades fa­miliares em sua vida particular, pudesse enveredar pêlos caminhos sombrios do crime, possuído por uma ideologia bárbara: o racismo.

Já no fim da vida, depois de preso, Hirnmler demonstrou bon­dade, preocupando-se com o tratamento dispensado a seus compa­nheiros; depois que passou a viver na ilegalidade, jamais cessou de atormentar-se com o possível destino de sua segunda esposa e de seus três filhos. Entretanto, nem por um só instante pareceu apiedar-se dos milhões de lares que destruíra e das inúmeras crianças que transformou em órfãos — quando não as massacrou!

Só sabia conceber o bem-estar e alegria da vida cotidiana para si e para os seus.

A vida mundana sempre teve grande importância para Himmler. Gostava dos uniformes elegantes e havia quem dissesse que seu traje de gala favorito fora aprovado pelo próprio Führcr. Mantinha um Geschenkkartei (fichário de presentes), cuidado por FrauleinLorenz, filha de seu particular amigo Werner Lorenz. chefe do departamento encarregado da Quinta Coluna no exterior. A filha de Lorenz arqui­vava fielmente as informações sobre as pessoas que mantinham cor­respondência com Himmler. Este detalhe levou Kersten a afirmar que Himmler não passava de um “pequeno burguês”, opinião corroborada por muitos autores.

Himmler levava o formalismo até os mais exagerados extremos. Chegava a anotar em fichas individuais os títulos e formas de polidez pêlos quais devia dirigir-se às pessoas com quem se correspondia ou tratava. Registrava os presentes que enviava às pessoas de suas rela­ções, frequentemente objetos de porcelana de fábricas onde traba­lhavam prisioneiros de campos de concentração (Dachau). Cada presente e suas características eram meticulosamente fichados.

As diferentes pessoas presenteadas, tocadas pelas atenções do Reichsführer, acreditavam compartilhar do gosto de Himmler que, portanto, causava sempre uma excelente impressão a todos.

Depois da guerra, visitando as mansões de Grunewald e Dahlem, encontrei nas bibliotecas dos grandes figurões do Reich diversas obras contendo dedicatórias assinadas por Himmler; variavam desde narra­tivas de viagens por regiões pitorescas até colecões completas das obras de Fichte e Nietzsche. A filosofia racial justificava os campos de concentração, as câmaras de gás e as hecatombes nos campos de batalha.

No que se referia à mesa, domicílio, empregados domésticos e modo de vida — incluindo uma amante com um belo título de no­breza —, Himmler sentia-se feliz, pois era um verdadeiro grande senhor. Como um respeitável membro da alta burguesia, possuía um castelo de caça, Wustrow, ao norte de Berlim, e recomendava aos grandes dignitários das SS que seguissem seu exemplo.

No discurso que pronunciou em 1941 ante os oficiais da Leibs-tandarte SS “Adolf Hitler”(Divisão da Guarda Pessoal do Führer), o Reichsführer declarou:

“O homem que guarda os prisioneiros realiza uma tarefa mais difícil do que aquele que cumpre o seu dever militar… Proponho-me a constituir um batalhão de guarda e fazer um rodízio do efetivo a cada três meses, a fim de que todos possam tomar conhecimento da luta contra os sub-homens.”

Tal atividade era indispensável por quatro motivos:

1º — para eliminar do povo alemão os elementos perigosos;

2º — para utilizar a mão-de-obra dos escravos nas pedreiras, a fim de que o Führer pudesse erigir os fabulosos monumentos do III Reich;

3º — para que a WVHA pudesse conseguir as grandes somas necessárias à edificação de lares para as famílias numerosas, pois a vitória ou a derrota seriam decididas pela expansão demográfica do sangue alemão; se a raça germânica não se multiplicasse, o Reich não poderia dominar o mundo;

4º — para cumprir o principal dever das SS: constituir-se no instrumento da colonização da Europa e da “solução final” do pro­blema judaico.

Com a morte de Himmler, desapareceu o mais espantoso dos grandes chefes nazistas. Em seu aspecto trágico, o Reichsführer ultra­passou até mesmo o próprio Hitler, pois ofereceu milhões de cadá­veres em holocausto à nebulosa ideologia de seu chefe, num genocí­dio que até hoje permanece mal esclarecido, a despeito da abundante literatura que foi publicada a respeito. Um certo mistério continua a persistir, pois muitas forças ainda entram em choque no sentido de influenciar a análise do caso de Himmler: interesses econômicos, rancores nacionais, fanatismo doutrinário. Os doze anos de existência do “Nacional-Socialismo” e sua espada — as SS — constituirão um marco em todo o nosso século.

O cadáver de Himmler, enterrado em algum ponto de Luneburgo, permanecerá para sempre como um símbolo de uma desumanidade que o mundo jamais viu, aplicada de modo tão deliberado e violento. As vítimas de Himmler, bem como seus inimigos e seus partidários, relembrarão até a morte o pesadelo dos campos de concentração, visto sob o prisma de sua subjetividade. ..

Por esse motivo, sentirei-me feliz se, na qualidade de ex-prisioneiro de um desses campos, consegui contribuir para encontrar a verdade e atualizar a velha fórmula romana:Historia, magistra vitae.

Inúmeros são aqueles que não conseguiram avaliar em sua justa medida aquela terrível experiência. Uma prova do fato é a campanha em favor da prescrição dos crimes nazistas. Entretanto, o inundo tem plena consciência de que o atentado realizado pelos nazistas con­tra a humanidade provocou a destruição de valores que sucessivas gerações levaram séculos para constituir.

O mausoléu consagrado aos grandes dignitários do Reich, cuja construção dominava os sonhos de Himmler quando este comprou uma montanha de granito na Suécia e criou a escola de marmoristas e entalhadores de pedra em Sachsenhausen, afundou-se eo monstruo­so oceano de escombros produzidos pela guerra. As ruínas da Ruhmeshallecobriram os ossos de 11 milhões de entes humanos que pereceram nos campos de concentração.

Trinta milhões de combatentes perderam a vida nos campos de batalha.

Trinta cinco milhões de homens ficaram feridos ou mutilados.

O Reich, em si, perdeu seis milhões de vidas, o que equivale a um décimo de sua população antes da guerra. E, por incrível que pareça, a hecatombe foi desencadeada em nome da metafísica do sangue e da raça.

As SS, através de seus crimes, enxovalharam a honra de um povo civilizado, que já deu ao mundo tantos pensadores, escritores, pintores e músicos.

Os sonhos megalomaníacos de Himmler e seus carrascos não podem ser comparados com a grandeza da alma humana, que se manifesta em todos os povos e, evidentemente, também no povo ale­mão. Mais cedo, ou mais tarde, a grande maioria dos homens apren­derá a lição e não dará, àqueles que sonham com a renovação desse passado trágico, uma nova oportunidade para se beneficiarem da divisão, do caos e da ignorância.

Transcrito do livro: O Império de Himmler – Edouard Calic

O Livro de Adolf Hitler, Mein Kampf – A Bíblia Nazista

Embora seja considerado “escrito” por Hitler, Mein Kampf não é um livro no sentido comum. Hitler jamais sentou a frente de uma máquina de escrever ou escreveu manualmente alguma das páginas. Na verdade Adolf Hitler começou ditando o livro para Emil Maurice enquanto estava preso em Landsberg, e após 1924 passou a ditar para Rudolf Hess enquanto estava preso entre 1923-24 e concluiu numa pousada em Berchtesgaden.

Ler Mein Kampf é como ouvir Hitler falar demoradamente sobre a sua juventude, sobre o início do partido nazista, planos futuros para a Alemanha, e ideias sobre política e raça.

O título original que Hitler escolheu foi “Viereinhalb Jahre [des Kampfes] gegen Lüge, Dummheit und Feigheit” – “Quatro anos e meio de luta contra mentiras, estupidez e covardia” -, porém Max Amann, o encarregado das publicações nazistas, decidiu que o título era muito complicado e o abreviou para Mein Kampf – Minha Luta. “

O primeiro volume, intitulado Eine Abrechnung, é essencialmente autobiográfico e foi publicado em 18 de Julho de 1925; já o segundo volume, Die Nationalsozialistische Bewegung (O movimento nacional-socialista), é mais preocupado em expressar a doutrina nazista e foi publicado em 1926.

Em seu livro, Adolf Hitler divide os seres humanos em categorias com base na aparência física, estabelecendo ordens superiores e inferiores, ou tipos de seres humanos. No topo da qualificação, de acordo com Hitler, está o homem germânico com sua pele clara, cabelos loiros e olhos azuis. Hitler refere-se a este tipo de pessoa como um ariano. Ele afirma que o ariano é a forma suprema da raça humana, ou mestre.

E assim segue-se no pensamento de Hitler, se houver uma forma suprema do ser humano, então deve haver outros menos supremos, o Untermenschen, ou racialmente inferior. Hitler atribui essa posição para os judeus e os povos eslavos, nomeadamente os tchecos, poloneses e russos.

Em Mein Kampf, Hitler afirma: “… ela (a filosofia nazista) de modo algum acredita em uma igualdade de raças, mas junto com sua diferença, reconhece o seu valor maior ou menor e sente-se obrigado a promover a vitória do melhor e mais forte, e exigir a subordinação do inferior e mais fraco de acordo com a vontade eterna que domina esse universo. “

Hitler, em seguida, afirma o ariano é também culturalmente superior.

“Toda a cultura humana, todos os resultados de arte, ciência e tecnologia que vemos diante de nós hoje, são quase exclusivamente o produto criativo da ariana…”

Hitler ainda afirma que os povos inferiores devem se beneficiar por serem conquistados, pois assim entram em contato e aprendem com os arianos superiores. No entanto, ele acrescenta que tal benefício existe apenas enquanto o ariano for o senhor absoluto e não se misturar ou miscigenar com os povos inferiores conquistados.

Mas é contra os judeus que Hitler tem mais aversão, e demonstram isso afirmando que eles estão envolvidos numa conspiração para impedir que a raça superior assuma sua posição de direito como os governantes do mundo, por manchar a sua pureza racial e cultural e até mesmo inventar formas de governo em que o ariano acredite na igualdade e não reconhece sua superioridade racial.

Hitler descreve a luta pela dominação do mundo como uma batalha racial, cultural e político entre arianos e judeus. Ele descreve seus pensamentos em detalhes, acusando os judeus de conduzir uma conspiração internacional para controlar as finanças do mundo, controlando a imprensa, inventar a democracia liberal, bem como o marxismo, a promoção da prostituição e vício, e usar a cultura para espalhar a desarmonia.

Ao longo de Mein Kampf, Hitler se refere aos judeus como parasitas, mentirosos, sujo, astuto, manhoso, astuto, inteligente, sem qualquer verdadeira cultura, um parasita, um intermediário, um verme, sugadores de sangue eterno, repulsivo, sem escrúpulos, monstros, ameaça, estrangeiros, sanguinários, avarentos, o destruidor da humanidade ariana, e o inimigo mortal da humanidade ariana…

Essa ideia de conspiração e da noção de “competição” para dominar o mundo entre judeus e arianos se tornaria crença generalizada na Alemanha nazista e ensinada às crianças nas escolas.

Isto, combinado com a atitude racial de Hitler contra os judeus, seria compartilhada em diferentes graus por milhões de alemães e pessoas de países ocupados, que permaneceram em silêncio ou participaram ativamente no esforço nazista de exterminar toda a população judaica da Europa.

Mein Kampf também fornece uma explicação para as conquistas militares mais tarde por Hitler e os alemães. Hitler afirma que, os arianos são a raça superior e por isso têm direito de adquirir mais terra para si. Este Lebensraum, ou espaço de vida, será adquirido pela força, e estas incluem as terras a leste da Alemanha, ou seja, a Rússia. A terra seria usada para cultivar alimentos e para fornecer espaço para a população ariana em expansão à custa dos povos eslavos, que estavam a sendo removidos, eliminados ou escravizados.

Mas para conseguir isso, a Alemanha terá que derrotar seu velho inimigo, a França, e vingar a derrota alemã da Primeira Guerra Mundial, assim como para proteger a fronteira ocidental. Hitler relembra amargamente o fim da Primeira Guerra Mundial, dizendo que ao exército alemão foi negado a sua chance de vitória no campo de batalha por traição política. No segundo volume de Mein Kampf, ele atribui maior parte da culpa aos conspiradores judeus.

Mein Kampf quando foi lançado em 1925 teve venda inexpressiva. Até mesmo seu editor se decepcionou com o conteúdo do livro, pois esperava uma história autobiográfica detalhada e com ênfase no Putsch da Cervejaria, porém Hitler não entrou em detalhes sobre sua vida pessoal e não escreveu nada sobre o Putsch. Além de que as centenas de páginas eram de difícil compreensão e seus eram parágrafos vagos, compostos por um homem autodidata. Houve a necessidade de editar e reeditar antes de ser impresso.

No entanto, após Hitler se tornar chanceler da Alemanha, milhões de cópias foram vendidas. Cada alemão procurava adquirir sua cópia. Era comum presentear o livro a crianças recém-nascidas, ou como presente de casamento. Todos os estudantes o recebiam na sua formatura.

Porém todas as revelações sobre a natureza de seu caráter e seu plano para o futuro da Alemanha serviu como um aviso para o mundo. Um aviso que foi ignorado na maior parte.

Ainda hoje influencia pessoas, sendo considerado como  a Bíblia Nazista pelos Neo-nazistas.

 

Popularidade

Os extratos de conta dos direitos autorais da Eher Verlag – a editora nazista – apreendidas pelos Aliados em 1945, mostrava que:

Em 1925, ano de seu lançamento, Mein Kampf (custando 12 marcos cada volume) vendeu 9473 exemplares, a partir de então as vendas caíram gradativamente.

Em 1926 vendeu 6913;

Em 1927 vendeu 5607; e

Em 1928 vendeu somente 3015.

Com as vitórias nas eleições pelos nazistas, a partir de 1929 as vendas cresceram, alcançando 7669 naquele ano, e saltando para 54 086 em 1930, ano em que surgiu uma edição popular de 8 marcos.

Em 1931, 50 808 exemplares foram vendidos, e 90 351 em 1932.

Em 1933 quando Hitler se tornou chanceler, as vendas saltaram para um milhão de exemplares.

Em 1940, 6 milhões de exemplares do Mein Kampf foram vendidos.

O Partido nazista afirmou que o livro antes disso já era um grande vendedor. Hitler possuía rendimento de 10% dos direitos autorais sobre o livro (sua principal fonte de renda a partir de 1925), 15% a partir de 1933, quando o rendimento da venda do livro superou um milhão de marcos.

 

Índices

O arranjo dos capítulos é como segue:

- Introdução

- Volume I: Uma conta

  • Capítulo 1: Na casa paterna
  • Capítulo 2: Anos de aprendizado e de sofrimento em Viena
  • Capítulo 3: Reflexões gerais sobre a política da época de minha estadia em Viena
  • Capítulo 4: Munique
  • Capítulo 5: A Guerra Mundial
  • Capítulo 6: A propaganda da guerra
  • Capítulo 7: A revolução
  • Capítulo 8: O começo de minha atividade política
  • Capítulo 9: O Partido Trabalhista Alemão
  • Capítulo 10: Causas primárias do colapso
  • Capítulo 11: Povo e Raça
  • Capítulo 12: O primeiro período de desenvolvimento do Partido Nacional Socialista

- Volume II: O movimento nacional-socialista

  • Capítulo 1: Doutrina e partido
  • Capítulo 2: O Estado
  • Capítulo 3: Cidadãos e súditos do Estado
  • Capítulo 4: Personalidade e concepção do Estado Nacional
  • Capítulo 5: Concepção do mundo e organização
  • Capítulo 6: A luta nos primeiros tempos – A importância da oratória
  • Capítulo 7: A luta com a frente vermelha
  • Capítulo 8: O forte é mais forte sozinho
  • Capítulo 9: Idéias fundamentais sobre o fim e a organização dos trabalhadores socialistas
  • Capítulo 10: A máscara do federalismo
  • Capítulo 11: Propaganda e organização
  • Capítulo 12: A questão sindical
  • Capítulo 13: Política de aliança da Alemanha após a Guerra
  • Capítulo 14: Orientação para leste ou política de leste
  • Capítulo 15: O direito de defesa

- Conclusão

- Índice

 

O Perfil Emocional de Adolf Hitler em Relação às Mulheres e Sexo – Hitler não era Gay

Palavras do Médico de Hitler

Ficou estabelecido, há muito tempo, que os jornalistas são produtos de um momento. Seria de espe­rar que eles descrevessem apenas o que vissem. Mas a verdade é que eles têm que ver não só o que lhes passa sob os olhos, como também aquilo que lhes é imposto pelos que mandam sem o que não terão permissão para continuar a dar notícias. Numa época de grandes reportagens, os in­teresses em entrechoque são tão grandes e tais, que os re­latórios dos correspondentes têm que ser, necessariamen­te, deformados não só pela vontade de seus chefes, como também pelas naturais e inevitáveis limitações da visão humana.

Hitler devia estar se portando muito bem, na oca­sião em que foi entrevistado pelo famoso John Gunther, um dos que mais admiro entre os cinco ou seis maiores jornalistas de nosso tempo. Abri o seu Inside Europe com um sentimento de fervorosa curiosidade, porque, apesar de exilado, aquela era ainda a minha Europa. Podeis, portanto, imaginar o meu aturdimento ao ler, nesse admi­rável repositório de acontecimentos contemporâneos, a afirmação de que “ele (Hitler) não manifesta o menor in­teresse pelas mulheres sob o ponto de vista sexual”.

“Seria possível que Gunther tivesse se encontrado com Hlitler em uma igreja?” — perguntei a mim mesmo. E, subitamente, me lembre de que meu antigo paciente não comparece mais a ofícios religiosos.

“A vida de nosso povo precisa libertar-se dessa peste asfixiante, representada pelo erotismo moderno” — na sentença do Fuhrer, transcrita do Mein Kampf  por Gunther como a mais perfeita caracterização da visão de Hitler em relação ao sexo. Mas, que diz ele a respeito das passagens nitidamente eróticas existentes no mesmo livro donde extraiu aquela?

 ”A sua vida privada — continua Gunther — corporifica integralmente aquele seu conceito. Ele não odeia mulher, mas evita e foge das mulheres. Suas maneiras semelhantes às dos antigos cavaleiros que apenas beijam a mão de sua amada e… nada mais. Muitas mulheres sentem-se sexualmente atraídas por ele, mas são forçadas a desistir do intento. A sra. Goebbels, noutros tempos, promovia reuniões noturnas para as quais convidava lindas e distintas mulheres, que desejavam conhece-lo.  Mas, apesar disso, Hitler continuou solteiro. Chegou a correr o boato de que o Fuehrer estava noivo da neta de Richard Wagner. Simples absurdo. É perfeitamente possível que Hitler, em toda a sua vida, jamais se tenha preocupado com as mulheres”.

Isso tudo foi dito a respeito de um homem foi fotografado em companhia de maior número de mulheres do que o próprio Clark Gable. Mas continuemos a ditar o que relata John. Ele é muito interessante, embora nem sempre se mostre bem informado.

  

“Nem tampouco, como está tão disseminado, ele é homossexual. Vários jornalistas alemães gastaram muito tempo e energia, vasculhando todos os lugares onde, em seus dias de Munich, Hitler havia dormido. Entrevistaram proprietários de cervejarias, empregados de cafés, donas de hospedarias e porteiros. Nenhuma prova conseguiram de que Hitler tivesse tido intimidade com qualquer pessoa, de qualquer sexo, em qualquer ocasião. Sua energia sexual, no princípio de sua carreira, foi evi­dentemente sublimada através da oratória. A influência de sua mãe e o ambiente de sua infância contribuíram, notavelmente, para isso. A maior parte dos escritores e observadores alemães, os mais bem informados, acreditam que Hitler seja um homem virgem”.

Teria sido muito mais interessante que o autor ti­vesse escrito: virgem bem-aventurado.Pois será possível que John Gunther não tivesse ouvido falar do namoro de Hitler, durante vários anos, com sua sobrinha Grete Raubal, namoro que terminou escandalosamente com o suicídio dessa moça? Ou do fracassado noivado de Hitler com a irmã de seu velho amigo Dr. Ernst (Putzi) Han-fstaegl? A ignorância desses fatos poderia ser conside­rada possível se Gunther não tivesse deixado claro, atra­vés de muitas citações feitas no seu livro, que havia lido inteiramente a biografia de Konrad Heiden. A mais acei­tável resposta a tudo isso é, portanto, admitir que Gun­ther, tendo gozado o privilégio de entrevistar o Fuehrer, tenha planejado gozá-lo, pelo menos, uma vez mais.

“Mas Adolf não é um homossexual, como acontece à maior parte dos alemães”.

Violeta Humana

“Sempre que penso em Hitler, — escreve Windham Lewis no seu livro The Hitler Cult (1939) — vem-me à ideia uma flor: a violeta.   Isso pode parecer absurdo. E, no entanto, ele é como que uma violeta humana. Sua timidez é um sentimento incontestável.   Hitler é quase um monstro de acanhamento.   E, para compreender o descaramento e desenvoltura de minha estranha violeta (uma vez que ele se lança para frente com tanto ím­peto e rudeza, como se fosse um girassol ou cousa seme­lhante, absorvendo a atenção do mundo através de sua luta por um “lugar ao sol”) é necessário que se dê uma explicação: ele é uma violeta paranoica! Na verdade, uma estranha variedade dessa  flor.  É um   homem   original essa nova Joana d’Arc masculina”.   Mas, temendo  que o leitor seja levado à conclusão de que a nossa violeta não é, de fato, um homem, o seu biógrafo Lewis acrescenta adiante: “Mas Adolf não é um homossexual, como acontece à maior parte dos alemães”.

Em que elementos se baseou Lewis para condenar a maior parte dos alemães, atribuindo-lhes a homossexualidade, ao mesmo tempo que exclui Herr Hitler, não foi por ele divulgado. Lewis, ao que parece, pertence a essa espécie de jornalistas que contam o que veem, baseados naquilo que poderiam ver. Talvez seja essa uma boa espécie de jornalismo. Mas, pela simples amostra que conheço, não pode ser uma boa maneira de informar.

Vamos agora examinar o depoimento de um alemão, que foi também líder nazista e que hoje, tal como eu, é um pobre refugiado. Imediatamente, a atmosfera começa a clarear.

Kurt G. W. Ludecke (cujo livro I Knew Hitler,publicado em 1937, era mais um trabalho de jornalista do que homem de Estado) revela tudo quanto soube das relações de Hitler com o sexo, o que se leu graças a uma conversação que teve ocasião de manter com Magda Goebbels, mulher do funesto e minúsculo Ministro da Propaganda. Basta-nos ler o que ele diz, para verificarmos que esse homem não pretende pedir nem conceder favores.

“Assim sendo, você está a caminho de conquistar uma alta posição na Alemanha — disse eu, em ar de zombaria. Dentro em breve, você será a sra.  Ministro, tendo em torno de si, a mim e outros mais, disputando o seu favor. Mas, conte-me, Magda, como foi que isso aconteceu?

“Com muita graça e ligeireza, disse-me ela que o seu interesse pelos trabalhos do Partido   (pelo qual eu fui um grande responsável)   havia continuado até que, por último, começou a prestar seus serviços no escritório de Berlin. Aí conseguiu despertar a atenção do seu chefe – Joseph Goebbels. Logo depois, tornou-se a sua secretária particular e ele um seu ardente admirador. (E por que não havia de ser assim — pensava eu — à proporção que relatava a sua história. Ela era bonita, culta, inteligente; residia numa casa luxuosa e a pensão de seu antigo marido fornecia-lhe uma renda respeitável). Goebbels, chefe da máquina de propaganda do Partido, começou a insinuar-se junto a ela, fazendo-lhe propostas que aos poucos foi cedendo…

“Mas, uma vez que estava disposta a casar-se com um elemento do Partido, por que razão não procurou conquistar o chefe do seu chefe: Hitler? — perguntei-lhe.

“Poderia ter feito isso — admitiu-a, enrubescendo ligeiramente.  Antes de dar a Goebbels o meu sim, convenci-o de que me devia levar a Munique, afim de me apresentar a Hitler e mostrar-me a Braune Haus. Hitler, porém, pareceu-me encantador, mas um tanto ou quanto…

“E olhou para mim ao mesmo tempo em que sorria.

“Disseram-me que um dos mais apreciados serviços que a Sra. Goebbels prestava a Hitler era a preparação de pratos especiais, dificilmente encontrados em outra parte. Hitler era, por essa ocasião, decididamente vegetariano, demonstrando uma avidez exasperada pelas cenouras e pelo espinafre. Goebbels, compreendendo isso, procurou transformar sua mesa numa espécie de isca e, dessa forma, conseguiu insinuar-se junto a Hitler como ninguém o fizera até então. Seus esforços, para consolidar essa influência fracassaram, no entanto, devido a uma desconcertante peculiaridade do caráter de Hitler. Soube disso, com uma espécie de íntima satisfação, ao perguntar a Magda por que razão ainda não tinha arranjado uma da companheira para Adolf.

“Disse-me ela:

“Meu marido, há algum tempo, fez-me a mesma pergunta. Ele andava ansioso por ver o nosso Fuehrer interessado por alguma rapariga bonita e inteligente. Achávamos ambos que isso lhe havia de ser útil porque, simultaneamente, lhe proporcionaria um certo repouso e uma confidente a quem poderia transmitir as suas inquietações. Mas a verdade é que não me revelei uma boa casamenteira. Costumava deixá-lo a sós com as minhas amigas mais encantadoras.  Ele, porem, jamais se manifestou. Putzi tentou, também, mas não obteve melhores resultados. Resumindo: sob certos aspectos, Hitler não é humano — não se pode alcançá-lo, nem tocá-lo. Meu marido ficou terrivelmente desapontado ao verificar que não era possível arranjar-lhe uma confidente”.

Visões sem Interesses

Vamos agora examinar a, opinião de dois gigantes que fazem parte dos emigrados alemães: o acadêmico Konrad Heiden e o combatente Otto Strasser. Konrad Heiden escreveu a mais elucidativa biografia de ambos: de Hitler e do partido, tendo vivido muito tempo entre a juventude hitleriana e podendo, pois, compreender aquelas aberrações sexuais que atingem as fronteiras do fantástico. São do seu livro estas passagens:

“Há provas documentárias que lançam uma luz surpreendente na questão que se refere às relações entre Hitler e as mulheres. Essas provas não deixam dúvidas a respeito de que Adolf ficava completamente escravizado às mulheres por quem se apaixonava.

 ”Considerações de ordem diferente, tornam impossível descrever, nos seus detalhes, não só aquelas suas tendências naturais, bem como as mencionadas provas documentarias. Queremos apenas mencionar que o tesoureiro do partido, Franz Schwarz, que ajudou a libertar Adolf das garras de certo grupo de piratas, é perfeitamente conhecedor do caso.

“O fato de Hitler deixar-se escravizar pelas mulheres representa a componente que faltava no quadro geral de caráter. Constitui o contraste com a sua exagerada brutalidade no campo da política, bem como em relação aos seus amigos e companheiros de trabalho, — contraste esse bem conhecido das autoridades em ciência sexual.

“E, dito isso, torna-se mais compreensível à natureza peculiar da conduta de Hitler em relação às mulheres. As mesmas são sempre obscuras e misteriosas, dando ele, ao contrário da realidade, a impressão de que não tem vida amorosa. Essas relações, quase sem exceção, rompem-se bruscamente e, em muitos casos, torna-se óbvio que não é Hitler quem abandona, mas é abandonado. Uma das mulheres aqui mencionadas, ao ser interrogada a respeito de suas relações com Hitler, deixou-me entrever que havia experimentado um grande desapontamento, em consequência do qual não podia considerá-lo um homem prestável.

“Em vista disso, somos levados à conclusão de que é perfeitamente certa a conjectura tantas vezes levantada a respeito da anormalidade da vida emocional de Hitler. Mas é verdade que essas conjecturas dirigiam-se em geral, segundo uma direção errada: Hitler não é homossexual, nem bissexual. É vítima apenas de escravização ao sexo contrário. Muitos psiquiatras aconselharam às pessoas sujeitas a tal inclinação um modo especial de olhar e de gesticular que são destinados a produzir a fascinação. Mas esse problema deve ser resolvido pelos especialistas”.

Fonte: Eu fui Médico de Hitler – K. Krueger
2º edição – 1942 – Pagina 76 a 82
Editora Nacional – Editorial Calvino Limitada