Os "loucos anos 20"

02-03-2012 20:44

Os "loucos anos 20" e as mutações nos comportamentos e na cultura 
"Os anos 20 (1924-1929) foram anos de prosperidade. O "American way of life" ("estilo de vida à americana") invadiu a Europa. Aos benefícios da sociedade de consumo associou-se a busca de prazer e a evasão e intensificou-se a vida nocturna. Os teatros, os cinemas, os night-clubs e outras salas de espectáculos e de jogos das grandes cidades tornaram-se locais habitualmente frequentados. As novas bebidas (cocktail), as novas músicas (sobretudo o jazz) e as novas danças (charleston, lambeth walk, swing e rumba) passaram a animar a vida nocturna. Rallies de automóveis, corridas de carros e de cavalos e outros desportos (como o futebol) constituíam outros divertimentos que envolviam grandes massas. O rápido desenvolvimento dos meios de transporte (comboio, automóvel, avião) e dos meios de comunicação (rádio, telégrafo, telefone...) acelerou o quotidiano das pessoas, favorecendo uma maior mobilidade espacial e do ritmo de vida. A moda de viajar entrou nos hábitos e prazeres das classes médias. Às viagens de negócios acrescentaram-se as viagens lúdicas, de turismo, quer no interior dos próprios países, quer para países estrangeiros, criando-se e desenvolvendo-se novas infra-estruturas para apoio destes lazeres: agências de viagens, serviços de hotelaria especializados, mapas, guias turísticos, bilhetes-postais ilustrados, etc. Paralelamente a este novo estilo de vida, o período entre as duas guerras mundiais caracrterizou-se por uma latente inquietação e instabilidade nos comportamentos sociais. A pas estabelecida pelo Tratado de Versalhes, que pôs fim à 1.ª Guerra Mundial (1919), foi uma paz aparente, já que, na Alemanha e na Itália, o nazismo e o fascismo iniciavam a sua caminhada galopante. A crise de 1929 viria a agravar essa instabilidade gerando mesmo angústias e miséria que iriam ter consequências a todos os níveis." 

Eric Hobswam, A Era dos Extremos, Editorial Presença 

 

Os "loucos anos 20" e as mutações nos comportamentos e na cultura

 

Entre 1914 e 1918, com a Primeira Guerra Mundial, viveu-se uma época de horror e destruição, com a mobilização dos homens para a guerra, a ruína da economia e a crise de valores. Porém, terminada a guerra, a economia mundial conheceu uma fase de recuperação e prosperidade.

Eram os "Loucos Anos '20". Os padrões de vida alteraram-se. Era a era do jazz, do charleston, dos cabarets, das casas de chá e dos clubes, da preferência pelo teatro em vez do cinema. Na moda feminina, as saias subiram do tornozelo até ao joelho, e o homem trocou a casaca pelo fato.

Também nesta altura houve um grande desenvolvimento da imprensa, com o aumento do número de jornais e de revistas e com a vulgarização do romance policial e da banda desenhada (Tintin, Mickey...); da rádio, com o surgimento das grandes cadeias de rádio como a NBC e a BBC; e do cinema, com o surgimento dos filmes sonoros, da construção de salas apropriadas e com o surgimento das grande produtoras.

O teatro, as exposições de arte e o desporto também ganharam outro fôlego. O futebol distinguiu-se entre os demais, mas, em alguns países, o boxe tinha também grande popularidade. Assim, criou-se uma cultura comum à maioria dos membros da sociedade - a cultura de massas.

Nos anos '20, também se deu uma explosão do saber científico, com descobertas sensacionais nos domínios da Física, Astronomia, Biologia, Medicina e Ciências Humanas, como a Psicologia e História. Entre estas descobertas, encontram-se: a Teoria da Relatividade de Einstein, o estabelecimento da teoria do Big Bang como explicação para a origem do Universo, a descoberta da penicilina por Fleming, a fundação da Psicanálise por Freud, a descoberta de novos dados sobre a origem do homem, entre outras.

A prosperidade dos anos '20 criou, assim, um clima de confiança na economia. Estava na moda comprar acções, pois era mais lucrativo investir na especulação do que na produção de bens. Porém, esta situação iria levar a desastrosas consequências.

No início de 1929, nos Estados Unidos, os homens de negócios começaram a aperceber-se de uma baixa na produção de aço, na construção civil e na venda de automóveis. Assim, algumas pessoas começaram a vender as suas acções. Este movimento foi crescendo até que, no dia 24 de Outubro, denominado de "Quinta Feira Negra", milhões de acções foram postas à venda. Mas, como não encontraram compradores, foram perdendo o seu valor. Era o 'crash' da Bolsa de Wall Street! 

Esta crise alastrou aos bancos, à produção agrícola e industrial. Muitas empresas foram à falência e milhares de trabalhores foram despedidos. A miséria atingiu as cidades e os campos, lançando no desespero vastas camadas da sociedade norte-americana.

A crise começou nos Estados Unidos, mas depressa se estendeu a outros países. Entre 1929 e 1933, a economia mundial, com excepção da Rússia que tinha um sistema económico diferente, conheceu uma profunda depressão. Iniciava-se, então, o período designado por Grande Depressão.

Como já sabemos, após a 1ª Guerra Mundial, as mentalidades mudaram, tal como os comportamentos. Isto deve-se ao impacto da Guerra, que para além de económico, militar e politico, conseguiu mutar as mentalidades, agora citadinas e massificadas. Esta mutação deu-se ao nível da cultura do ócio e da emancipação feminina, que é o que vamos ver a seguir.
Os sentimentos reprimidos, de angustia e medo, como consequência dos tempos de guerra, foram substituídos, pela esperança e fúria de viver, pelo não olhar para trás e viver, sem reflectir, pondo assim em causa os valores espirituais e morais burgueses. O impacto foi, primeiramente, vivido nos EUA, sendo depois divulgado e alargado pela Europa. A expressão "loucos anos 20" retrata o ambiente frenético em que se vivia.
Nesta década a juventude era muito apreciada, estando os jovens a ouvir as peripécias dos mais velhos, aquando da sua juventude. Também os jovens de cariz burguesa e classes altas, procuravam os prazeres da vida, os prazeres mundanos, da vida nocturna, em festas e clubes, com bebida, tabaco, dança, desporto, viagens e o romantismo, que nesta altura era muito concorrido e estimado.
O Jazz, o tango, o foxtrot e o Cherlston eram os géneros de musica, que se faziam ouvir nas festas frenéticas, deste período. O cinema, e a brodway, expandem-se, tal como as viagens, os desportos, para as classes burguesas, que tinhas o tempo e a disposição para se darem ao ócio. Destes desportos, podemos destacar o automobilismo, e aviação, que nesta época, evidenciaram-se e deixaram marcas para a paixão da velocidade se prolongar até aos dias de hoje.

 


A moda também se fez notar, tanto nos homens, como nas mulheres, mas acima de tudo neste último género. Assim sendo, o homem usava tecidos mais leves, e casacos mais curtos, as calças muitas vezes eram substituídas por calças de golf, tal como o colete era substituído pelo pluver, o que lhes dava um ar mais descontraído e jovem.
As mulheres, para se equipararem ao homem, uma vez que conseguiram, mesmo, chegar a substitui-lo em cargos, na sua ausência para a Guerra, em fábricas, para manter as suas famílias (o que as tornou num ser independente do homem) e cuidar dos feridos (como enfermeiras), cortavam o cabelo curto "a la garçonne". Esta equiparação, foi percepcionada por elas, e a seguir os acompanhantes masculinos, já não eram necessários nem de dia, nem de noite, quer para fazer compras, quer para clubes nocturnos; como eram seres muito semelhantes, e como tal, tinham os mesmo direitos, a mulher começou a beber e a fumar. O papel da mulher estava muito mais fincado, nesta época, pois após a Guerra já trabalhavam fora de casa, não tinham um papel meramente submisso aos seus homens. Para além do trabalho, a mulher desde há muito que vinha a lutar pelos seus direitos de igualdade na politica. Assim, sendo, as sufragistas conseguiram conquistar o direito ao voto, na Alemanha, Áustria, Inglaterra e EUA, não sendo só o direito ao voto, mas sim o de exercer funções politicas, o direito de pleno acesso aos cargos públicos. Ao nível da moda, a mulher encurtou os vestidos, acentuando as curvas, o que tornava os vestidos provocantes, com decotes, a maquilhagem era frequente e, igualmente provocante, com o carmim, os braços estavam, agora, descobertos, os sapatos eram de salto alto e a utilização de acessórios, como as pérolas, era frequente. Em relação à roupa interior o espartilho foi substituído pelo soutien. Também no casamento, se nota que o papel da mulher mudara, pois o divorcio não deixa a mulher mal vista na praça pública, nem "falada", como se usava o termo antigamente. Tal como o papel da mulher mudara, no casamento, esta união, também se torna mais instável, com, o já referido, divórcio. Mas não só o divórcio é uma diferença, nesta época, o casamento era por amor, e não por compromisso; o controlo da natalidade também, se começava a fazer sentir, daqui concluímos, a mutação dos valores tradicionais, para dar lugar à modernidade.

 


No séc. XX, desaparece o individuo, que dá lugar à multidão, assim promovendo-se o anonimato e a massificação. O ritmo é alucinante, quer nas ruas, quer nos empregos ( trabalho em série, que torna o trabalhador numa máquina sistemática) quer no ócio, para acompanhar este ritmo, desenvolve-se os transportes que poupa tempo, e traz condições de vida melhores, mais confortáveis.

 

 


É necessário, também, referir as novas concepções cientificas, como a psicanalítica. E a literatura e as inovações ao nível da pintura. Tal como a descrença no pensamento positivista.

 

 

Porém, nem tudo é bom nesta época! Também há pobreza, existem as classes mais baixas que não têm tempo, nem dinheiro para se divertir, para se darem ao ócio. Esta classe é a outra face da moeda, é a face que muitas vezes se esquece, mas que também é importante referir. Estas pessoas, que trabalham em fabricas, que são quase umas máquinas humanas, uns escravos pagos com más condições de trabalho, que produzem o mais rápido e eficaz possível, para o usufruto dos mais abastados. 


 

 Futebol: Fulminense - Sporting (1928) 

 

 

Ciclismo - Volta a França (a primeira foi em 1903)