O Ultimato Inglês

12-02-2012 17:28

 

Leia o seguinte texto e responda às questões no final do mesmo: 


Em 1890 o orgulho nacional foi duramente atingido pela humilhação infligida pela nossa “velha aliada”, que obrigou a coroa portuguesa a abdicar das suas pretensões expansionistas em África. A história de um ultimato que feriu de morte a monarquia portuguesa.
 

Nas últimas décadas do século XX assistiu-se a um redobrar do interesse da Europa pelos outros continentes. À necessidade de matérias-primas para abastecer as emergentes indústrias europeias, havia a acrescentar a urgência de encontrar novos mercados para escoar a produção dessas mesmas indústrias. Também a mentalidade positivista então reinante fomentara na opinião pública a crença na superioridade e missão civilizadora dos europeus, e a revolução dos transportes marítimos tornara mais próximos destinos outrora distantes. África apresentava-se como o objectivo óbvio dessa nova vaga de imperialismo europeu, não só devido à sua proximidade, como também porque a conjuntura no continente americano se modificara muito ao longo da última centúria .

Até meados do século XIX, os territórios africanos ocupados pela Europa limitavam-se a pequenas faixas ao longo do litoral mediterrâneo, atlântico e índico. As atenções Europa vão portanto voltar-se para o interior do continente, onde as grandes potências tinham interesses contraditórios e irreconciliáveis. Para evitar possíveis conflitos, as principais potências europeias decidiram, na Conferência de Berlim, em 1885, repartir África entre si segundo o «princípio da ocupação efectiva», isto é, os territórios africanos deveriam pertencer a quem tivesse os meios para os ocupar de facto.

Portugal, apesar do seu pouco peso político internacional, possuía vastos territórios ultramarinos, fruto do seu dinamismo expansionista dos séculos XV e XVI. A independência do Brasil, em 1822, ao privar Portugal da sua mais importante colónia, obrigava-o a olhar com renovado interesse para as suas possessões africanas. De entre estas, as mais ricas e extensas eram Angola e Moçambique, das quais, a semelhança o resto do continente, apenas o litoral era conhecido efectivamente ocupado. A nova conjuntura internacional esteve assim na origem de inúmeras viagens de exploração, destacando-se entre elas a de Serpa Pinto e a de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. O primeiro fez, entre 1877 e 1879, a ligação entre Benguela, em Angola, e Durban, na costa Leste da África do Sul. Os segundos, partiram de Moçâmedes, em Angola, em 1884, e atingiram Quelimane, em Moçambique, cerca de um ano depois.
Reconhecido o território, foram então enviadas algumas expedições militares, entre 1885 e 1890, para a vasta região compreendida entre Angola e Moçambique, a fim de reclamar esses territórios à luz do que ficara definido na Conferência de Berlim (princípio da ocupação efectiva).

Em 1886 era apresentado o célebre “mapa cor-de-rosa”, com o qual Portugal pretendia que lhe fossem reconhecidos os direitos às regiões entre Angola e Moçambique. Sabia-se que esta pretensão portuguesa colidia com um velho projecto inglês de ligar o Cairo (Egipto) ao Cabo (África do Sul). A reacção do governo inglês chegou no dia 11 de Janeiro de 1890, sob a forma de um ultimato formal apresentado ao governo português pelo representante britânico em Lisboa e no qual se exige que todas e quaisquer forças militares portuguesas que se encontram nas regiões entre Angola e Moçambique se retirem sob a pena de corte de relações entre os dois países. Na prática significava que ou governo obedecia ou a Inglaterra declararia guerra a Portugal. O rei D. Carlos reuniu à pressa o Conselho de Estado e, salvo duas opiniões contrárias, todos concordam que era preciso ceder. A resposta para Inglaterra seguiu nesse mesmo dia: "Na presença de uma ruptura iminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as consequências que dela poderiam talvez derivar, o Governo de S.M. resolveu ceder às exigências formuladas (...) e vai expedir para o Governo Geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha".

Não será difícil avaliar o choque profundo e duradouro que o ultimato britânico provocou em Portugal. Na verdade, a cedência passiva da coroa portuguesa à pressão exercida pela “velha aliada” viria a provocar um descontentamento profundo e uma não menos profunda divisão na sociedade portuguesa. Por todo o lado rebentaram manifestações de repúdio contra os ingleses e contra a monarquia portuguesa. Populares apedrejaram o consulado inglês, outros propuseram acabar com as importações inglesas. Esta vaga de descontentamento foi rapidamente aproveitada pelo emergente Partido Republicano, que, através de uma hábil propaganda conduziu ao descrédito o regime monárquico, já de si abalado por uma grave crise financeira.

Foi também um período de grande fervor patriótico, com o qual se procurava reabilitar o duramente atingido orgulho nacional. A Academia de Coimbra declarou-se pronta a formar um batalhão de voluntários para “defender a pátria, para lutar, para vencer ou para morrer”. Como o verdadeiro problema era a falta de meios bélicos para enfrentar a Inglaterra, e sobretudo a falta de dinheiro para os adquirir, criou-se uma “Comissão de Defesa Nacional” encarregada de abrir uma subscrição que permitisse comprar navios e armamento. Foi também por esses dias que foram compostas a letra e a música d’A Portuguesa (letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil), uma marcha patriótica que, anos mais tarde, a República adoptaria como hino nacional (os canhões do hino são, pois, os canhões ingleses).

Um ano depois do ultimato, em 31 de Janeiro de 1891, eclodiu no Porto a primeira revolta republicana. Embora sufocada, serviu para revelar a existência de uma ameaça real às instituições vigentes, que viriam a sucumbir menos de duas décadas depois, no dia 5 de Outubro de 1910.

Com base no texto, tente agora responder a estas perguntas:

  1. Explique qual o objectivo da Conferência de Berlim.
  2. Defina o princípio da ocupação efectiva.
  3. Explique o que pretendia Portugal ao apresentar o projecto do mapa cor-de-rosa.
  4. Justifique o ultimato inglês a Portugal.
  5. Explique o impacto do ultimato em Portugal.