Holocausto

23-06-2013 10:07

Sabina Miller – Sobrevivente do Holocausto Judeu

 

Sabina Miller nunca soube o que aconteceu com aquela jovem mulher, que ela apenas conhecia por Ruszka. As duas passaram o verão de 1942-43 abrigadas em um buraco na floresta do noroeste da polônia. Aquilo foi cavado antes pelos partisanos (resistência polonesa) e era a melhor acomodação que duas mulheres poderiam encontrar. “Nós não podíamos ir para casa porque não tínhamos casa e nós nos sentimos mais seguras nos bosques do que correr o risco de sermos entregues para os alemães.

Sabina encarou o horror do gueto de Varsóvia na sua adolescência; depois ela acabou trabalhando em uma fazenda administrada por um homem lituano. Ele geralmente chicoteava as trabalhadoras judias se elas não trabalhassem duro o suficiente. Lá ela conheceu Ruszka e juntas elas finalmente fugiram para o abrigo na floresta. Não foi por causa dele que fugimos, mas porque ouvimos que os guetos estavam sendo liquidados e ouvimos os caminhões vindo buscar os judeus.

Estávamos sentados cercados de chá e bolos na calorosa cozinha de Sabina em um flat a oeste de Hampstead Londres onde ela vive por aproximadamente 50 anos. Como era naquele buraco congelante? “Não podíamos caminhar ali. Escorregávamos e então tentávamos nos manter aquecidas como podíamos. Eu acho que nós tínhamos pegado um cobertor de algum lugar que nos manteve aquecidas. Mas estávamos congeladas e fracas, parecíamos animais. Meus pés estavam tão inchados que eu não conseguia calçar botas” Sabina agitava os pés. “Depois tiveram que operar o meu pé, eles amputaram parte do meu polegar.”

A única coisa que Sabina tinha para lembrar-se do seu passado com sua família em Varsóvia era uma pequena bolsinha que continha algumas fotografias e um cartão postal de sua irmã. O cartão postal, Sabina acredita, foi jogado por sua irmã de um trem que estava indo para um campo de concentração e alguém o pegou e enviou para a fazenda. “Eu não tenho certeza. Talvez ela tenha pulado do trem, talvez ela esteja viva.” Parece improvável ela admite, mas depois de quase 70 anos o cartão que foi, talvez, jogado do trem lhe dá esperanças.

Durante a noite Sabina e Ruszka  iam de fazenda a fazenda implorar por comida. Mas os fazendeiros disseram para elas não irem juntas – Elas pareciam muito Judias obviamente. Então ela e Ruszka começaram a pedir comidas sozinhas. Um dia Ruszka não voltou.       “Quem poderia saber o que aconteceu com ela?”

Sabina perguntou nas fazendas sobre sua amiga. Ninguém tinha notícias, mas uma esposa de um fazendeiro fez uma proposta. Poderia Sabina, aquela garota de 20 anos judia de Varsóvia se passar pela filha não judia do fazendeiro, que tinha sido recrutada para os trabalhos forçados na Alemanha? Sabina Najfed (seu nome de solteira) se tornou por algum tempo, a filha polonesa do fazendeiro chamada Kazimira Kuc. Como ela estava muito fraca, os alemãe não a levaram para os campos de trabalho forçados, mas depois, com outro nome, ela acabou indo para a Alemanha. Ela passou o resto da guerra assumindo outros nomes.

Os anos de fuga lhe deixaram traumatizada. “Quando a guerra acabou, eu achava que era a última Judia na Europa” Depois da libertação, ela foi levada para um campo de desabrigados. “Um dia um soldado me perguntou: Você é Judia? Eu disse: Não. Foi força do hábito.  Sabina passou muito tempo na Guerra negando quem ela era. “Quando eu cheguei na Inglaterra, nos primeiros dois ou três anos eu continuava apreensiva em contar as pessoas que eu era Judia. “Eu me apaixonei por esse país porque o que eu recebi foram carinho e aceitação.” Sabina prosperou: Ela casou, construiu uma família, aprendeu inglês, fez amigos, trabalhou com vendas e se tornou o que ela não era há anos – ela mesma.

Hoje ela ainda lembra de sua infância em Varsóvia, mas apenas parcialmente. Seu pai e sua mãe provavelmente morreram de tifo no gueto. “Eu não tenho certeza sobre o que aconteceu com minha mãe, porque eu também tive tifo e apaguei por semanas. Quando voltei a mim, minha mãe não estava lá. Eu nem sei quem cuidou de mim. Na fazenda, eu costumava dizer a todos que minha mãe não estava morta. Mas eu não sabia”  Ela lembra de ser levada para fora do gueto pelo seu irmão para ir e ficar com uma tia que vivia no campo. “Eu lembro que não tiramos a faixa dos nossos braços durante nossa fuga porue tínhamos medo, mas usamos capas de chuva para escondê-las.

Três anos atrás, Sabina decidiu voltar para sua terra natal pela primeira vez em mais de 60 anos para visitar Auschwitz. “Eu tive que curvar minha cabeça por respeito e orar pelos mortos. Ela, seu neto e filha recitaram o Kaddish, a oração fúnebre dos judeus. Na mesma viagem, ela foi a Varsóvia para encontrar algo sobre sua família. Assim como Ruszka, os destinos de sua mãe e parentes permanecem incertos, apesar da possibilidade de eles terem sido assassinados pelos nazistas ser a mais provável. Ela me contou que liga regularmente para o cemitério em Varsóvia para saber se, durante o trabalho de restauração dos túmulos, eles encontraram sua mãe, seu pai ou seus avos.

 

Onze anos atrás, Sabina, agora com 87 anos, se tornou uma bisavó quando Jack nasceu. Ela me mostrou um calendário de 2010 contendo fotografias de seu filho Stuart e filha Sandra, seus seis netos e o bebê Jack. “Estou feliz, eu sobrevivi e consegui conquistar muitas coisas” ela diz. “ Eu tenho adoráveis crianças e amorosas pessoas ao meu redor”

Irma Grese “A Cadela de Auschwitz”

Irma Grese nasceu em 1921. Aos 18 anos, sonha ser atriz de cinema, mas ela é acima de tudo uma selvagem nazista que integra as SS depois de um curto emprego de enfermeira de sanatório para dirigentes do partido. Frequenta suas “aulas” de vigilante em Ravensbrück, antes de ser efetivada em Auschwitz-Birkenau. É lá que vai se tornar a mais cruel das vigilantes SS do campo, alcançando rapidamente o posto de Aufseherin, auxiliar da vigilante chefe (Lagerführerin) Maria Mandei, que, por sua vez, só se interessa por suas “preferidas”, as tocadoras de música da orquestra de mulheres de Auschwitz.

Tristemente célebre no campo das mulheres, Irma Grese, por vezes cognominada “o anjo da morte”, mas na maioria das vezes “a cadela de Auschwitz”, acompanha o dr. Mengele em suas seleções em vis­ta de “experiências” ou para destinar às câmaras de gás. Com seu eterno chicote nas mãos, bate nas detentas com ciência e ferocidade, exceto no caso de ter escolhido uma delas como amante por um breve lapso de tempo. Bissexual de grande apetite, “a cadela de Auschwitz” faz também suas escolhas entre os homens, ao mesmo tempo em que é a amante ocasional de Mengele.

Irma Grese não esqueceu, contudo, seus “velhos” sonhos de atriz e de vedete. Ela explora particular­mente as bagagens das deportadas judias parisienses, apoderando-se assim de roupas, de calçados finos, de lingeries na moda, de perfumes de que se inunda generosamente e que assinalam por longo tempo seus percursos pelo campo. Fez confeccionar pára si um uniforme fantoche, segundo o modelo das ASF (mulheres colonas da Antártica), sobre o qual mandou costurar suas insígnias SS. Acredita que sua cor azul-celeste harmoniza perfeitamente com a cor de seus olhos.

Em 1944, fica grávida. Nada de Lebensborn para a temível SS, que preferirá abortar com a ajuda de uma médica detenta, a dra. Gisela Perl, com o revólver à mão para se certificar de que a operação será bem feita.Terminado o aborto, ela está de tal modo certa de que a médica guardará segredo, que nem pensa em eliminá-la. Ela lhe promete uma capa que, aliás, nunca dará.

Quando o campo de Auschwitz começa a ser desmantelado no final de janeiro de 1945, com a aproxi­mação do Exército Vermelho, Irma Grese é transferida para o campo de Bergen-Belsen, no momento em que a fome e o tifo matam mil homens e mulheres por dia. As tropas britânicas que libertam o campo no dia 15 de abril de 1945 descobrem, horrorizadas, imensos amontoados de cadáveres que os sobreviventes nem sequer têm forças para arrastar para as valas comuns.

Detida com as outras responsáveis do campo, Irma Grese é julgada com elas a partir de 8 de outubro de 1945 por um tribunal militar britânico em Lüneberg. Esse é um dos primeiros processos dos cam­pos de concentração. Ela era obrigada a chicotear as detentas? Não. Ela lamenta? Não. Condenada à morte, caminhará para o suplício sem jamais se desfazer de sua soberba.